
Não é de hoje que jornais e grandes veículos de mídia realizam rankings universitários para, em tese, exibir ao seu público quais seriam “as melhores universidades privadas do Brasil” (leia-se “as melhores uniesquinas do Brasil”) – e não há nada de errado com isso, na Inside University já avaliamos inúmeras vezes a possibilidade de elaboração do nosso próprio ranking. Porém, ao analisarmos mesmo que superficialmente alguns desses rankings, algumas coisas parecem não fazer sentido – e talvez não façam mesmo.
Há algumas décadas, opiniões emitidas por rankings influenciaram na decisão de centenas de milhares de estudantes e, principalmente, pais de vestibulandos ao escolher qual seria a melhor universidade privada para seus filhos estudarem. Ao mesmo tempo em que isso pode ser visto como algo bom – afinal, qual pai não vai querer seu filho nas melhores faculdades segundo o ranking X do jornal Y? -, também pode ser visto como algo extremamente prejudicial – visão essa que não era tão comum até alguns anos atrás, mas que, enfim, aparenta estar mudando.
Com o avanço das redes sociais, tornou-se comum ouvir grandes “gurus especialistas” dizerem aos quatro ventos “Não faça uma faculdade!” ou “Bill Gates e Mark Zuckerberg não terminaram a faculdade e hoje são bilionários!”. Usar exceções como essas para provar um ponto vai muito além de uma ingenuidade por parte desses gurus, isso é o mais puro suco de mau-caratismo e escassez de pensamento crítico, mas essa é uma discussão para outro artigo de opinião. O ponto aqui é que, da mesma forma que esses gurus fazem um mal absurdo e atrasam o desenvolvimento de todos que decidem os seguir cegamente, rankings universitários divulgados sem transparência e real embasamento podem desempenhar um papel tão ruim quanto ao fornecer informações enviesadas ao seu público.
Um estudo recente de um dos centros de pesquisa da United Nations University (universidade estabelecida pela ONU que não aceita estudantes e é focada em realizar pesquisas e investigações) aborda o quão problemáticos são rankings universitários ao redor do mundo. Um dos pontos abordados pelo estudo é a falta de critérios claros que realmente representem o que significa ser uma “boa universidade”. Em vez disso, muitas classificações priorizam métricas que favorecem algumas instituições em detrimento de outras, deixando de lado aspectos fundamentais como a qualidade do ensino, o impacto social das universidades e a relevância local de suas atividades.

Além disso, há um lado comercial que raramente é discutido: muitos dos principais rankings universitários são produzidos por empresas privadas cujo objetivo não é a melhoria do ensino superior, mas sim o lucro. Seja vendendo consultorias para universidades que desejam melhorar suas posições ou – pasmem – por meio da promoção de imóveis pertencentes a determinadas imobiliárias em bairros próximos a essas instituições de ensino, essas empresas transformaram a ideia de ranking em um negócio lucrativo, muitas vezes com claros conflitos de interesse. Como confiar em uma avaliação que, de forma velada, recompensa as instituições que se tornam clientes dos classificadores?
Em uma rápida busca no site do e-MEC, foi possível encontrar cursos – de pelo menos uma das faculdades frequentemente citadas no “top 10” desses rankings – com notas de CPC (indicador de qualidade que avalia os cursos de graduação) e ENADE (prova que avalia o desempenho dos estudantes universitários) sendo 3 e 2, respectivamente, indicando que a qualidade de parte dos cursos é considerada, no mínimo, mediana. Será mesmo que uma universidade ranqueada entre as melhores do Brasil deveria possuir cursos com notas tão baixas?
E não se engane: o Brasil conta com excelentes instituições de ensino superior privadas. Entre elas, destacam-se o Insper e a Fundação Getulio Vargas, que, embora não apareçam com frequência em muitos rankings, possuem notas máximas em seus cursos junto ao MEC, tríplice coroa de acreditações internacionais (AACSB, EQUIS e AMBA), realizam pesquisas, estudos e ações que impactam o desenvolvimento econômico e social do Brasil, além de serem sem fins lucrativos (revertem sua receita exclusivamente para a missão da própria instituição).

Diante disso, surge a pergunta: qual é a real função de um ranking universitário? Ele serve para orientar estudantes e famílias ou para reforçar um status quo que pouco tem a ver com o impacto positivo que as universidades podem gerar na sociedade? Embora, hoje em dia, seja comum ouvir piadas no meio acadêmico descredibilizando rankings enviesados, ainda há um longo caminho a ser percorrido. Talvez seja o momento de repensarmos as métricas utilizadas para avaliar a qualidade do ensino superior.
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